Dimitris - Circuito - por Milenna Saraiva
julho 2022
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Arte observada
O algoritmo da beleza – Dimitris Ladopoulos
Dimitris Ladopoulos é um diretor de arte e designer gráfico de Athenas, Grécia. Estudou engenharia de design de produto, mas logo descobriu sua afinidade por design gráfico e cinematografia. Seu trabalho é fruto da combinação de diversas plataformas tecnológicas e narrativas visuais tradicionais. Grande parte de sua pesquisa tem foco na relação entre a tecnologia, a ciência e a arte. Para contar suas histórias ele combina todo seu conhecimento e técnicas digitais, quebrando barreiras para criar um trabalho totalmente original e atual.
A arte e a tecnologia sempre tiveram uma ligação muito próxima e conturbada. Desde a invenção da câmera fotográfica à invenção do computador, artistas abraçaram ou desprezaram a tecnologia com paixão. Para o artista multimídia, este conflito foi a inspiração para seu mais novo projeto intitulado “Retratos”. Dimitris criou um algoritmo que reinterpreta pinturas clássicas, dando a elas uma versão contemporânea. O projeto surgiu a partir da fascinação de Ladopoulos por treemapping. Em visualização de dados e computação, treemapping é um método para exibir dados hierárquicos usando retângulos alinhados.
Treemaps exibem dados hierárquicos (árvore-estruturada) como um conjunto de retângulos. Para cada ramo da árvore é definido um retângulo, que é, então, preenchido com retângulos menores lado a lado, os quais representam sub-ramos. Cada retângulo tem uma área proporcional a uma dimensão especificada nos dados. Muitas vezes, os ramos são coloridos para mostrar uma dimensão separada dos dados. Como as dimensões de cor e tamanho são correlacionadas com a estrutura da árvore (ou do treemap) pode-se, muitas vezes, ver padrões que seriam difíceis de detectar em outras formas de visualização. O programa, que é constantemente revisado e refinado, calcula a densidade das informações das imagens e as transforma em um conjunto de retângulos monocromáticos. Quanto menos informação, maior a área do retângulo.
Ele compara esta característica ao método de pintura tradicional.
Pintores fazem isso usando cores e pinceladas menores ou maiores. O resultado é um mosaico de blocos coloridos que transita entre o impressionismo e o pointilhismo, em uma versão high-tech.
Desde a Renascença artistas usufruem das tecnologias da época para ajudar em suas criações. Dimitris usou a tecnologia para subverte-la.
VAMOS OBSERVAR
Dimitris Ladopoulos Johannes, 2017
da série Retratos Arte digital
Pintura original: Retrato de Johannes Wtenbogaert por Rembrandt Harmensz van Rijn, 1633
A escolha das pinturas para colocar em seu algoritmo criador veio da mera adoração de Dimitris pela obra de Rembrant van Rijn, o mestre holandês. A pintura original é caracterizada por uma paleta de tons terrosos, composição sombria e atitude pensativa da pessoa retratada. As outras escolhas de obras vêm todas da idade clássica dos retratos, desde a plasticidade icônica de Leonardo Da Vinci à austeridade neoclássica de Vermeer, até o impressionismo hipnotizante de Vincent van Gogh.
Quando olhamos de perto, esses retratos revelam sua imensa complexidade.
Alguns retângulos tem a largura de um fio de cabelo, enquanto outros blocos grandes de cores complementam a composição do fundo. Mas o mais impressionante é a capacidade do software, guiado pelo designer, de criar um relevo em 3D, totalmente novo baseado na informação das obras.
O potencial desta qualidade única ultrapassa o limite humano de criação artística. Ou você faz uma pintura, ou uma escultura. A junção de ambas, apesar de já existir, é muito limitada. Ladopoulos está no momento pesquisando qual será a melhor forma de produzir estas imagens em 3D. A pura geometria e a sensibilidade mecânica das imagens criadas apresentam um grande contraste com a suavidade e natureza humana dos retratos originais escolhidos pelo artista. O mais interessante é ver o quanto uma obra de arte pode ser desconstruída, antes de perder sua humanidade.
Que a inteligência artificial vai dominar o mundo nós já sabemos. Milhões de pessoas vão perder seus empregos pois suas funções serão substituídas por máquinas. Mas acredita-se que existem algumas funções que se mostraram extremamente difíceis de serem implementadas em inteligências eletrônicas, e são exatamente aquelas que para nós parecem as mais simples como, por exemplo, a de criar coisas belas, pelo simples ato de criar. Mas será que é isso mesmo? Dimitris coloca em questão esta certeza. Durante milhões de anos nos estabelecemos como a espécie dominante do planeta, mas tudo indica que nosso reinado está prestes a acabar.